Aprendendo oratória no ensino médio
Ernée Kozyreff Filho • 02/set/2022
Ernée Kozyreff Filho • 02/set/2022
Turma de alunos da escola Rubens de Faria e Souza na primeira aula do TOP.
No primeiro semestre deste ano (2022), ministrei o TOP (Treinamento Oratória Prática) para alunos do ensino médio da Escola Técnica Rubens de Faria e Souza, em Sorocaba-SP. A ideia era simples: formar uma turma de 12 alunos para fazer o curso, que ocorreria uma vez por semana, na própria escola, de forma gratuita. Marquei uma reunião com a diretoria, apresentei a proposta e eles aprovaram a ideia. Foram colocados cartazes pela escola, fiz uma palestra para explicar como tudo aconteceria e, em duas semanas, já estávamos na sala de aula. E o que presenciei nessa sala, nos três meses de curso, foi fora de série.
Antes de continuar, acho importante explicar como esse curso funciona. O TOP possui duração de 3 meses com encontros semanais de 3 horas e é realizado com atuação intensa dos alunos. As aulas são construídas a partir de práticas, que são atividades específicas e programadas no início do curso para todos os participantes. Antes de cada aula, os alunos precisam estudar a prática da semana para poder desenvolvê-la junto ao grupo. O curso é construído de forma colaborativa e, portanto, não é do tipo em que “basta estar lá”. Se a pessoa não estiver preparada, não irá aproveitar a aula e ainda pode prejudicar o seu andamento.
Por um lado, essa forma de conduzir o treinamento é muito envolvente e traz senso de pertencimento a cada aluno, que enxerga a sua importância na construção do todo. Por outro lado, ela exige dedicação e comprometimento, pois, caso alguém falte, essa pessoa realmente irá fazer falta. Vale também dizer que o curso era livre, ou seja, não possuía vínculos com a escola e nem teria uma “nota” no final. Assim, a presença foi 100% voluntária e baseada somente na vontade de aprender.
O primeiro fato que quero destacar sobre essa turma é que os 12 alunos que iniciaram o curso foram até o fim e realizaram todas as atividades propostas. Não houve uma desistência sequer. Esporadicamente alguma pessoa teve que faltar por motivos pessoais, mas realizou a prática que perdeu na semana seguinte.
Durante o curso, o comportamento da turma foi exemplar. Todos mostraram-se muito educados e respeitosos. Em nenhum momento precisei pedir para que fizessem silêncio ou parassem de perturbar a aula. No primeiro dia solicitei para não usarem o celular enquanto um colega estivesse falando e essa gentileza foi mantida até o fim. O clima dentro da sala foi sempre de apoio mútuo com o objetivo de desenvolver novas habilidades, sendo a oratória a principal delas.
Às vezes ouço pessoas falando que os “jovens dessa geração” não querem nada com nada, estão alheios à realidade, só ficam no celular e blá blá blá… Não podemos generalizar. Essa ideia de que os mais novos são menos preparados ou capazes me parece simplista e, ademais, recorrente ao longo da história. Pessoas 20 anos mais velhas do que você falavam o mesmo da sua geração e que no “tempo deles” o mundo era melhor. Será? Que tal quebrar essa corrente e reconhecer nas pessoas mais novas o potencial que elas têm?
Posso dizer que conduzir esse curso com jovens de 15 e 16 anos me trouxe vários aprendizados e surpresas agradáveis. Os tópicos sobre os quais os alunos falariam eram de livre escolha e fiquei impressionado com a diversidade de temas que foram abordados. Para exemplificar, trago uma lista dos títulos de alguns discursos apresentados. Vejamos:
"Compreensão de mim mesmo"
"Saúde precária no Brasil"
"A tecnologia e seu impacto na humanidade"
"Você sabia que o balé nem sempre foi na ponta dos pés?"
"Simbologia das cores"
"Dinheiro"
"Viagem no tempo"
"Investimentos para o futuro"
"Livro físico versus digital: vantagens e desvantagens"
"Mulheres na ciência"
"Para que exista a próxima geração"
"O medo e suas nuances"
É difícil transmitir através deste texto a riqueza do que presenciei ao assistir às apresentações. Quando os alunos eram chamados à frente da sala, falavam com muito entusiasmo e energia. Os temas eram sempre desenvolvidos com profundidade, fruto de pesquisa e preparação e via de regra geravam debates adicionais.
Tenho certeza que o curso fez diferença na vida deles, pois, ao longo das semanas, era nítida a evolução de cada um no que diz respeito à confiança para estar discursando em público. Toda vez que uma aula acabava, eu saía com uma sensação especial de dever cumprido e de ter vivenciado algo único. Naquelas horas, havia estado em contato com pessoas numa fase importante de suas caminhadas, repleta de inquietude, conhecimento e vontade de crescer. Tenho certeza também que essa turma fez diferença na minha vida.